sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mensagem: Reforma - Eu e o Senhor somos maioria


 Usei esta frase outro dia em um devocional: “Eu mais o Senhor somos maioria!” Esta é uma frase de efeito, mas não é só isso. Ela contém uma verdade fundamental, e uma afirmação de fé muito consistente. Quando aplicamos essa frase à Reforma podemos ver a ação de Deus na história, usando Lutero como instrumento na restauração da verdade.

Quando pensamos na Reforma falamos do movimento religioso que propunha reformar uma série de doutrinas e práticas que estavam em vigor na Igreja e que não estavam de acordo com princípios cristãos expostos na Bíblia. Lutero não queria e nunca foi sua intenção fundar uma nova Igreja, mas sim que a Igreja reconhecesse seus erros e os coibisse. Muitos não veem neste período mais do que um movimento de oposição político-religioso, mas queremos lembrar que ele foi bem mais do que isso, ele foi um movimento de fé, motivado e empurrado por ela para o resgate de uma verdade necessária e fundamental para todo o ser humano, de que nós somos salvos, vivemos e somos perdoados por um ato da misericórdia e da bondade de nosso Deus, que veio ao nosso encontro no seu Filho o Salvador Jesus. Não foi porque fizemos alguma coisa, mas porque Deus nos amou.

Conta a história que Lutero, já professor e Doutor, numa das noites de 1514 fez uma grande descoberta. Estava trabalhando em suas anotações sobre o livro de Salmos. O salmista tinha citado as palavras que Jesus proferiu sobre a cruz: “Deus meu, Deus meu porque me abandonaste?” Lutero estava intrigado, porque haveria o santo filho de Deus sentir-se abandonado pelo Pai? Lutero tinha se sentido assim muitas vezes, mas ele era pecador e Jesus era puro e sem pecado. A única resposta é que Cristo tomou sobre si mesmo os nossos pecados. Certamente o Deus que fez isso por nós é um Deus misericordioso! No entanto Deus não é apenas misericordioso; ele é também santo e justo. Lutero já tinha se deparado com as palavras, “Justiça de Deus!” Para ele isso mostrava que Deus demonstra a sua justiça e sua retidão castigando os pecadores, essas palavras eram motivo de temor. Como Paulo muitas vezes desenvolve esse conceito, Lutero se volta para as suas cartas na tentativa de entendê-lo melhor. Em Romanos 1.17 podemos ler: “Visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé”. Lutero pode perceber o real significado do termo “Justiça de Deus”, que não significa a bondade que o próprio Deus tem, mas sim a bondade que ele nos outorga, essa justiça não é uma recompensa, mas sim um presente gratuito dado a todo aquele que crê que Jesus sofreu e morreu pelos seus pecados, em seu lugar. Lutero ficou emocionado com essa redescoberta e disse: “Senti-me exatamente como se tivesse nascido de novo”. Pela primeira vez em sua vida Lutero pode ter a certeza de que os seus pecados estavam perdoados. Deus não deixou de ser justo, ele castigou o pecado, mas não em nós, ele castigou o pecado em seu Filho.

Deus, em sua sabedoria, providenciou um momento histórico propício para que a Reforma pudesse acontecer. No dia 31 de Outubro de 1517, Lutero fixa na porta da Catedral de Wittemberg, 95 despretensiosas teses. Lutero se propunha a um debate acadêmico sobre o valor das indulgências e seus efeitos na vida dos cristãos, das Comunidades Cristãs e da Igreja Cristã. A partir desse momento, nem Lutero poderia ter previsto o que iria acontecer. Os fatos se desenrolaram de tal forma que Lutero foi levado a defender e aprofundar cada vez mais as verdades que defendia. Ele estava se indispondo contra a autoridade máxima do Império. O fato é que a Reforma se desencadeia e Lutero em pouco tempo se vê diante do próprio Imperador defendendo essas verdades. 

Apesar do Papa ter excomungado Lutero em janeiro de 1521, quem poderia declarar Lutero um fora-da-lei era o Imperador Carlos V, mas o Imperador precisava do apoio da Alemanha contra a França e os Turcos e não podia se indispor contra os príncipes eleitores da Alemanha. Lutero, como poucos, viveu a frase acima. “Eu e Deus somos maioria!” Muitas vezes ele questionou se estava de fato certo. Mas amparado pela Palavra de Deus e pela certeza de que estava de acordo com ela, compareceu diante do Imperador na dieta de Worms para defender as verdades bíblicas e doutrinárias redescobertas na Palavra e expostas em seus escritos.  Os seus amigos insistiram para que ele não fosse, ao que ele respondeu: “Cristo ainda vive, e eu entrarei em Worms a despeito dos portões do Inferno e dos poderes das trevas.” Num primeiro momento, em que estavam presentes todas as autoridades do Império, e o próprio Imperador, lhe lançaram uma pergunta de duplo sentido em que cabia a ele apenas se retratar, “Dr. Lutero, o senhor admite que esses livros são seus e que estava errado no que escreveu?” Os títulos foram lidos e Lutero pede um tempo para pensar, pois argumenta que a questão diz respeito a Deus e a fé das pessoas. No dia seguinte Lutero, mais seguro, responde sobre a questão, e diz: “A menos que me convençam pela Escritura ou por razões claras, de que estou errado, eu permaneço constrangido pelas Escrituras. Não posso me retratar, Deus me ajude. Amém.” Ali estava Lutero! Sozinho? Não, com a maioria que é Deus. Deus estava no contexto histórico e político, nos amigos que o apoiavam, nos príncipes cristãos que reconheceram em seus escritos a autoridade da Palavra, ou seja, Lutero mais Deus era maioria!

Tudo isso é mais do que uma boa história. O que a mensagem da Reforma tem a nos dizer ainda hoje? Tudo o que o próprio Evangelho nos diz, e o que relembra o apóstolo Paulo em Efésios 2. 8-9 “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” O centro do próprio Evangelho é o que Lutero redescobriu de que nós somos salvos por um ato de pura bondade e amor de nosso Deus, a Graça, e que recebemos essa salvação  pela fé em Jesus.

 
Qual a relevância dessa mensagem hoje? – Penso nas muitas pessoas que se sentem culpadas por causa de seus pecados e não tem a certeza de saberem que são perdoadas pela Graça de Deus. - Penso nas muitas pessoas que ainda hoje vivem em sistemas religiosos que não deixam claro o favor de Deus. – Penso nas muitas pessoas que não se sentem amadas e queridas, por não terem a consciência de que Jesus morreu por todo o mundo, mas que morreu por elas individualmente. – Penso nas muitas pessoas que se esforçam muito em suas vidas, e tentam assim comprar a salvação e obter o favor de Deus e não tem a certeza de que o favor de Deus é Graça de graça. – Penso nas muitas pessoas que poderiam viver com alegria a sua fé, capacitadas por Deus, por amor e gratidão ao Salvador, mas ainda tem pavor de Deus. - Penso nas muitas pessoas desesperadas na hora de sua morte por uma consciência atribulada e que morrem em completo desespero. – Penso nas muitas pessoas que vão ser condenadas ao Inferno por não confiarem em Jesus como seu Salvador. - Por todos esses motivos lembrar de que nós somos salvos pela graça de Deus é a coisa mais importante que nós podemos fazer.

Que Deus nos abençoe quando celebramos a Reforma, que não seja apenas o momento de exaltar um herói da fé como foi Lutero, mas seja um momento de gratidão pela salvação que nós temos em Cristo. Amém



“O justo viverá por fé.” Romanos 1.17.



Rev. Rubens José Ogg - Secretário Nacional da IELB

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Reflexão: Fio de ouro

Dilma ou Serra? Independente do resultado neste domingo, as Escrituras afirmam que “nenhuma autoridade existe sem a permissão de Deus” (Romanos 13.1). Isto é questão de fé, logicamente. Uma confiança que afirma que em Deus “vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.28); uma certeza que sustenta a insignificante contabilidade divina dos fios de cabelos da cabeça, que não caem sem a permissão do Criador (Lucas 21.18). 

Desde aquele dia quando Deus criou os céus e a terra (Gênesis 1.1), há outro fio, invisível, de “ouro”, que segue pelos tempos e atravessa a história humana, e que, mesmo sem a maioria perceber, rege o mundo, governos e pessoas. E se o Rei dos reis foi o “santinho” em destaque nesta corrida presidencial, mesmo depois descartado junto aos restos de campanha, ainda continuará mexendo os pauzinhos. Aliás, isto a gente sempre faz – só lembra de Deus na hora que precisa e depois...

Em todo o caso, governos, por melhores ou piores, deste ou daquele partido, são a mão de Deus, necessários para a ordem e sobrevivência. Pais, mães, patrões, chefes, professores, policiais, enfim, por melhores ou piores, qualquer função existe “porque as autoridades estão a serviço de Deus para o bem” das pessoas (Rm 13.4). O que seria deste planetinha azul sem o comando no lar, na empresa, na escola, no país? Especialmente através do poder público Deus protege e sustenta a família, a vida, a propriedade, a honra e a dignidade do povo, preservando a ordem e a disciplina. Não é por menos a recomendação: “Por isso você deve obedecer às autoridades, não somente por causa do castigo de Deus, mas também porque a sua consciência manda que você faça isso (Rm 13..5).

Esta certeza – de que este Deus que amou o mundo de tal maneira e que tem o domínio total nas pequenas e grandes coisas – tranquiliza o coração daqueles que dão a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Uma certeza que também faz agir na oração “pelos reis e por todos os outros que têm autoridade, para que possamos viver uma vida calma e pacífica, com dedicação a Deus e respeito aos outros” (1 Timóteo 2.2).
 


Marcos Schmidt
                pastor luterano