Dar um jeitinho sempre fez parte da cultura brasileira, algo que em outros lugares é chamado de corrupção. Modos que aceitamos, sobretudo quando se trata da política. Mas agora o focinho do camelo expulsou de vez o dono da barraca, ou seja, o monstro cresceu e nos engoliu. Lembro-me em Foz do Iguaçu, no meu estágio de Teologia, quando a Itaipu estava quase pronta. Diziam que boa parte da obra era desviada. Vivia-se a ditadura no Brasil e no Paraguai, e ninguém piava.
Hoje todos piam, mas a jovem Democracia corre risco de morrer afogada por conta de uma colossal represa de enganação que estourou e deixou um rastro de ruínas. Roubalheiras e mais roubalheiras públicas, a exemplo do recente escândalo na reforma agrária, com 578 mil beneficiários irregulares. Mais de 35 mil pessoas falecidas, mil políticos, 61 mil empresários, centenas de pessoas abastadas, todos fazendo festa com as terras descobertas por Cabral. Desserviço num programa primordial quando riquezas e terras são mal distribuídas. Por estas e outras tramoias que este governo e boa parte da classe política perderam a confiança quando sempre usaram águas públicas para molhar a própria horta. Será que a Lava Jato vai conseguir limpar a nojenta sujeira?
Mas esperança não basta. É preciso lutar (sem armas e ódio) por um Brasil justo e digno. Começando dentro de mim, na minha casa, no meu emprego (se ainda tiver), no meu dia a dia. Porque corrupção tem olho d’água. “É do coração”, diz Jesus, “que vêm os maus pensamentos, os crimes de morte, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, as mentiras e as calúnias” (Mateus 15.19)
Para represar tais nascentes salobras, Jesus convida: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba (...) Rios de água viva vão jorrar do coração de quem crê em mim” (João 7.38). Foi o que aconteceu com Zaqueu, ladrão das coisas públicas. Arrependido, prometeu a Jesus: “Vou dar a metade dos meus bens aos pobres. E, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais” (Lucas 19.8). Imaginem se todos os larápios fizessem isto?
Marcos Schmidt