terça-feira, 19 de abril de 2011

Reflexão: Um Jesus “chocolate”

Um britânico afirma que Jesus celebrou a Santa Ceia na quarta-feira, diferente do que narram os Evangelhos. Ele defende isto no livro O Mistério da Última Ceia, assunto que foi notícia nesta semana. Sem dúvida, outra polêmica jogada ao vento nesta época da Páscoa com nítido interesse comercial. Isto rende matéria, e lembra a velha ganância de Judas que negocia o Filho de Deus. São os interesses mesquinhos, e controversamente, a própria razão da Santa Ceia e da Cruz. Afinal, aquele que entrega o seu corpo e seu sangue no pão e no vinho, aquele que morre no Calvário,  “anulou a conta da nossa dívida, pregando-a na cruz” (Colossenses 2.14).

Pouco importa a data, o peixe, o ovo de chocolate. Já disse o apóstolo “que ninguém faça para vocês leis sobre o que devem comer ou beber, ou sobre os dias santos” (Colossenses 2.16). E complementa: “Tudo é apenas uma sombra daquilo que virá; a realidade é Cristo”. O problema é que a gente agarra a sombra e acha que fez um bom negócio. Empanturra-se de peixe uma vez por ano e pensa que respeitou o dia, enche o ninho de chocolate e acha que festejou a Páscoa. Enquanto isto, a “realidade” fica junto aos embrulhos dos ovinhos, às espinhas do peixe.

Mas o que fazer quando a sombra se materializa? Quando a tradição encobre o significado? “Tradição” vem do latim e significa “transmissão”. Daí as palavras tradução e traição. Quando costumes não traduzem mais o real sentido, a tradição vira traição. Por isto o aviso para se ter cuidado com argumentos sem valor e ensinamentos humanos (Colossenses 2.8). Na igreja isto é um constante perigo quando práticas viram objeto de superstições. Por isto a carta de Paulo aos cristãos de Colossos, eles que absorveram conceitos contrários à fé cristã. Gnosticismo, filosofias, legalismo judaico, cristianismo – tudo no mesmo balaio. Deste ninho saiu um  “Jesus chocolate” que não resolvia o sentido da vida e da morte deles. Então as palavras: “Cristo é a verdadeira vida de vocês” (3.4).

Nada contra feriados e tradições religiosas. Mas quando fica só nisto, prefiro comer chocolate na sexta e peixe no domingo. E o Pão da Vida todos os dias.

Marcos Schmidt

pastor luterano