Pesquisa
recente mostra que a maioria dos brasileiros acredita que hoje tem mais
corrupção do que no tempo do regime militar, mesmo assim não deseja a
volta da ditadura. Até porque é mais fácil manter a ordem civil por um
"AI 5" – ato constitucional que deu plenos poderes ditatoriais ao
governo – no lugar do governo democrático. Alguns até pensam que "bom
era naquele tempo" quando não havia tanta corrupção e impunidade.
Lembro, no entanto, que o meu tio, pastor, foi intimado pelos militares
porque reclamou dos buracos nas ruas da sua cidade. Se hoje nossas
reclamações não são atendidas pelos governantes e se há decepção com a
política, é preciso recusar os atalhos e seguir o caminho da ordem
democrática.
Algo
parecido acontece na vida cristã quando Paulo escreve que "Cristo nos
libertou para que sejamos realmente livres" (Gálatas 5.1). Havia um
perigo iminente que o apóstolo chama de “outro evangelho”, uma ditadura
religiosa na igreja da Galácia com certas regras para alguém ser um
“bom” cristão. Paulo sabia o que era viver sob a tortura da lei no
tempo do seu radicalismo farisaico. Ele foi o próprio carrasco: “Era tão
fanático que persegui a igreja” (Filipenses 3.6). Por isto as palavras:
“Continuem firmes como pessoas livres e não se tornem escravos
novamente” (Gálatas 5.1) ao tratar da fé em Jesus que faz a pessoa
experimentar a alegria da liberdade nos direitos e deveres do amor ao
próximo.
É
claro, política e religião são pratos que não se misturam, e por isto
tanta indigestão. No caso da religião que se fundamenta na liberdade
cristã, tão defendida pelo apóstolo Paulo, ela tem muito a oferecer para
uma nação que busca a ordem civil, as boas relações, a estrutura
familiar, o trabalho, a honestidade, o respeito às autoridades – estas
coisas básicas da vida humana. Foi o mesmo Paulo quem disse depois de
recomendar a ordem política: “Quando as autoridades cumprem os seus
deveres, elas estão a serviço de Deus” (Romanos 13.6).
Marcos Schmidt
pastor luteranomarsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil