Imagino um escultor frente a um bloco de mármore para nele esculpir uma figura. Ele vê aquele bloco com muita naturalidade porque, ao mesmo tempo, “vê” a figura que está ali dentro. Então o que ele faz? Com cinzel e martelo ele retira do bloco aquilo que ainda cobre a imagem e surge uma obra prima. Éramos, inicialmente, um bloco de barro. O escultor maior eliminou aquilo que não seria autêntico na imagem e do pó da terra emerge a nobre figura humana, coroa da criação.
Então, éramos a imagem de Deus (Gn 2.1). Hoje, nadando contra a correnteza em águas poluídas, grudam em nossa figura impurezas, tais como “adultério, prostituição, furtos, falsos, blasfêmias (Mt 15.19); inveja, avareza, malícia, soberba (Rm 1.29ss); iras, intrigas, orgulho, tumultos (2 Co 12.20); ciúmes, discórdias, bebedeiras (Gl 5.20); conversação torpe, chocarrices ) (Ef 5.3); desobediência aos pais, ingratidão, arrogância, sem domínio próprio (2 Tm 3.2ss) – e por aí vai...
Quando assim acontece, deformados em nossa figura original, o escultor maior retoma as ferramentas e trabalha em nós para restaurar a imagem divina, afetada pela poluição do pecado (Rm 3.23). Ele “lava a imundícia (Is 4.4), corta o ramo improdutivo (Jo15.2), corrige a quem ama (Hb 12.6), e açoita todo filho que recebe, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes de sua santidade”(Hb 12.6ss).
Este trabalho de restauração, ele o faz contínua e diariamente pela Palavra – o seu cinzel e martelo. Já havia prometido em Jeremias: “Te restaurarei a saúde e curarei as tuas chagas” (Jr 30.17). E o salmista confirma: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e da sabedoria aos simples” (Sl 19.7). Diversos são os apelos da Palavra: “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, limpai o coração” (Tg 4.8). E na tribulação seu martelo bate forte, “sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Rm5.3,4). Mesmo batendo forte “é socorro bem presente na tribulação” (Sl 46.1), fortalecendo a alma a fim de “permanecermos firmes na fé” (At 14.22).
Eis porque o evangelista João, inspirado, exalta e resume esta obra de restauração do divino escultor, nestas maravilhosas palavras de consolo, fé e salvação: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Esculpidos e sempre restaurados, cantemos com o salmista: “Louvar-te-ei Senhor, de todo o meu coração; cantarei todas as tuas maravilhas” (Sl 9.1).
Guido Rubem Goerl – Pastor emérito da IELB.
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