terça-feira, 25 de março de 2014

Além da Calculadora!!!!


     Alguém pagaria R$ 2 milhões e 500 mil por um imóvel que vale 100 mil? O Brasil - na diferença que as cifras são bilhões - ao adquirir uma refinaria de petróleo nos Estados Unidos. Incompetência, distração, desonestidade? Não passa um dia sem alguma notícia de má gestão, prejuízos, fraudes e desvios na administração pública. O IPE, Instituto de Previdência do Estado, é outro caso de negócio mal feito que caminha para a falência com um milhão de assegurados. Mas a Copa do Mundo poderá ser o grandioso espetáculo de gastança do dinheiro público. Estima-se que o custo para o Brasil promover este evento da Fifa será em torno de R$ 33 bilhões (85% dos cofres públicos) quando o valor previsto era de uns R$ 3 bilhões. Não é por nada que as nossas contas rebaixaram a nota de crédito internacional, dificultando o investimento estrangeiro.

     "Se um de vocês quer construir uma torre, primeiro senta e calcula quanto vai custar, para ver se o dinheiro dá". Isto foi dito por Jesus como exemplo dos custos na gestão pessoal da fé cristã. "Se não fizer isso", segue a parábola, "ele consegue colocar os alicerces, mas não pode terminar a construção. Aí todos os que virem o que aconteceu vão caçoar dele..." (Lucas 14.28-30).  As leis de economia não mudaram, e hoje Jesus diria que um seguidor dele não pode imitar os administradores públicos que dão prejuízo e envergonham o Brasil lá fora. "Não pode ser meu seguidor quem não estiver pronto para morrer como eu vou morrer", explica o Senhor às multidões que se espremiam atrás de vantagens, sem colocar na balança o peso da cruz. Pedro fez uma minuciosa planilha de custos ao lembrar tais palavras de Jesus, e completou: "Sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus. Que cada um use o seu próprio dom para o bem dos outros" (1 Pedro 4.10). Parece que a velha lição, de colocar tudo na ponta do lápis, é um aprendizado que precisa bem mais que uma simples calculadora.

                                                                                                                                        
Marcos Schmidt
pastor luterano
marsch@terra.com.br

quarta-feira, 5 de março de 2014

"Muito Mais Que Cinzas"

      Após um incêndio, o que sobra são cinzas. Depois da erupção vulcânica, lá estão elas até onde o vento levar. Pó, resíduos, restos. Da cor do céu encoberto, melancólico, destoante do azul ensolarado.
     Para muita gente, a Quarta-Feira de Cinzas tem este aspecto abatido, triste, de ressaca, de um fogo que pouco ou nada deixou. Mas, este dia tem um significado distinto daquilo que pretende descolorir. É o início de um tempo especial. De reflexão, concentração, incubação. Algo complexo nestes dias agitados, conectados, corridos. 
     Quem ainda tem espaço para refletir? As tarefas, os compromissos, as metas, a televisão, a internet, os programas - tudo conspira contra o quê as cinzas tentam encobrir.

     "Em sinal de tristeza", registra a Bíblia, "vestiram roupas feitas de pano grosseiro e puseram cinzas na cabeça. Então se levantaram e começaram a confessar os pecados que eles e seus antepassados haviam cometido.
     Durante mais ou menos três horas, a Lei do Senhor, seu Deus, foi lida para eles. E nas três horas seguintes eles confessaram os seus pecados e adoraram a Deus" (Neemias 9.2,3).  
     Esse ritual bíblico do Antigo Testamento inspirou os cristãos no mesmo simbolismo, e no século cinco, os 40 dias antes da Páscoa foram marcados com a Quarta-feira de Cinzas. Tudo para sublinhar que a cinzenta paixão e morte do Senhor Jesus tinham uma razão: os nossos pecados. E depois com as cores vibrantes da ressurreição.
      Mas a tradição pode virar traição. Cinzas podem querer, inadvertidamente, colorir. Quarenta dias sem alegria? Sem carne? Melhor, então, uma despedida de solteiro, uma festa da carne! Foi o que também fizeram no tempo de Isaías, e por isto a desaprovação divina: "Eu odeio o incenso que vocês queimam, não suporta as festas religiosas" (1.13). 

     Cinzas, no entanto, são mais que cinzas quando há renovação. E com ela a confidência: "Ó Deus, o meu sacrifício é um espírito humilde; tu não rejeitarás um coração humilde e arrependido" (Salmo 51.17).

Marcos Schmidt
pastor luterano